Um banho de afeto e autoestima
3 de dezembro de 2020

Cauê Ito/Projeto Solos
Projeto Banho pra Geral mostra que água e um olhar humano para a cidade são elementos fundamentais para restabelecer a dignidade de quem tem a rua como lar
O que você faz quando chega em casa depois de um dia de correria, muitas vezes transpirando, se sentindo sujo? Toma banho.
Imagine se você não tivesse essa opção. É isso o que acontece com as pessoas que estão em situação de rua. Um banho nessas condições é artigo de luxo.

A água é escassa para quem vive nas ruas e não é tarefa fácil conseguir um simples banho. O mais paradoxal é que o nosso planeta é composto 75% por água, mas o acesso a esse recurso natural está cada vez mais escasso e caro.
Essa dificuldade de ter água para fazer a higiene básica ou mesmo para beber ficou evidenciada na cidade de São Paulo, onde mais de 25 mil pessoas vivem nas ruas, por causa da Covid-19. Logo no início da pandemia, a orientação geral para prevenção era água e sabão. E, de repente, uma realidade tão dura enfrentada desde sempre pela população vulnerável, se escancarou. É difícil conseguir água limpa quando se vive nas ruas.

Parece supérfluo, mas não é. Em religiões, por exemplo, a água é usada, muitas vezes, em rituais de iniciação, e também comumente usada com o sentido de limpar o espírito, de purificar a alma.
Na nossa vida, também podemos depreender que a água tira as impurezas da nossa casa material, que é o nosso corpo. Ter o direito a higiene básica tem a ver com dignidade e autoestima.
“Eu sinto um alívio. O corpo fica leve, você se sente limpo, se sente outra pessoa”, conta um rapaz em situação de rua, usuário do projeto, à reportagem do SOLOS.

O projeto Banho pra Geral surge exatamente para tentar suprir essa demanda, a partir de uma parceria da Casa de Vó com o Instituto de Políticas Relacionais, e está completando um ano de vida neste mês de dezembro.
A cada 15 dias, a carreta itinerante do Banho pra Geral estaciona em um local da cidade com um reservatório de 440 litros de água, kits de higiene e até roupas fruto de doação. Atualmente o projeto conta com 83 voluntários.

“A água é conforto. Não é a toa que a gente é feito 70% dela. E faz parte do ser humano, especialmente do brasileiro, tomar banho”, explica a assistente social Vanessa Labigalini, diretora da Diretoria de Projetos e de Comunicação na Instituto de Políticas Relacionais.
O Banho pra Geral também oferece corte de cabelo e barba. No dia em que o SOLOS acompanhou o projeto, foram distribuídos 32 banhos.
Os relatos de gratidão e bem estar são comuns entre os que se beneficiam daquele cuidado tão essencial. “Pequenas atitudes fazem com que a gente se sinta ser humano de novo”, afirma André Mender após seu banho.
O projeto tem uma campanha no Catarse de financiamento recorrente. Saiba como ajudar clicando aqui.
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